terça-feira, 25 de dezembro de 2012


Brindemos, todas as manhãs,
meu amor, com um tilintar de rosas,
ora brancas, ora carmim,
ora singelamente rosa.
Que símbolos melhor alinhavados
Para o bordado do amor
Poderia no mundo haver
Que os motivos da rosa:
Cor em choque, rubros beijos,
Alvos, raros pássaros
Que às vezes pousam em meu jardim.
Que outras formas mais completamente
Revelariam o que sentimos, este amor
Em cores tantas, em múltiplas instâncias:
Rosa dos ventos em caprichos de lua
Ora a negar-nos, ora a nos conceder
Por inteiro o seu perfume, a sua face.
Brindemos, pois, amantes,
Com o mais fino licor das rosas,
Tão finitas & sempre vivas,
Tão óbvias & super novas,
Tão dolorosamente espinho
E ainda amorosamente rosas:
Eis o amor
Em sua mais irretocável metáfora –
O resto são prosas.


Fernando Campanella

INQUÉRITO DO ALUMBRAMENTO


Qual a tua conotação do belo?
O que te suspira, o que te arregala?
O que te enxota para dentro da vida?
O que te exubera, o que te arrebata?
Que tipo de gesto te deixa perplexo?
O que te desenha um abismo na palma
[dos pés] p'ra que tu, animal– tão inseto –
da terra das mãos faça o incesto das asa
E que pássaro é tua espécie?
O que nesse mundo te espanta,
te espasma?
De que arrobos suspira o teu corpo?
Onde te inflama a pele?
- Em que ponto, em que polo? -
Em que poro arrepia tua alma?


Katyuscia Carvalho

MUDANÇA


Estou empacotando velhos brinquedos
Quebrando os medos
Abrindo antigas gaiolas
Absolvendo discórdias
Que moravam dentro de mim

Não que isso seja o fim...
É apenas começo

Não me interessam mais essas velhas peças
Que decoraram meu castelo
Nem mesmo os velhos chinelos
Que arrastei pelo chão

Quero tudo novo!
Até um sol diferente
Quero algo muito mais quente
Do que tive até aqui

Ta vendo essa bela casa?
Eu que fiz...
Decisão a decisão
Passo a passo
Pedra a pedra

Hoje saio daqui!
De velho... Só levo meu coração
Mas até ele a partir de hoje
Baterá diferente
Só olhará pra frente
E viverá só de luz.


Victtoria Rossini

domingo, 9 de dezembro de 2012

ARGAMASSA DA VIDA


Hoje entendi que saudade não se define!
Sempre soube que doía uma despedida,
cada uma delas, na justa medida!

Mas não há medida justa para sentimentos,
cada um tem seu peso,
desespero e destempero.

Seu rastro é profundo, inevitável,
a marca deixada: indelével
todas têm seu mistério!

Meu coração tantas vezes trincado,
mais que machucado, aos pedaços,
tenta se recompor.

A cola, a vida oferece:
sempre em forma de prece
argamassa onde entra o amor.

Cada lágrima rolada
sedimenta a virada
cujas pás são as mãos do Senhor!


Rogoldoni

A COR DA LÁGRIMA


Porque a lágrima não tem cor?
Enquanto chorava, me pus a pensar.
Se fosse vermelha como sangue,
As minhas vestes poderiam manchar.
Se a lágrima fosse amarela,
A cor da alegria,
Expressar tristeza
Jamais poderia.
Se fosse azul,
A cor da serenidade,
Eu não choraria jamais.
Seria só tranqüilidade.
Se fosse branca,
Como pétalas de rosas,
Não seriam lágrimas...
Mas pérolas preciosas.
Ainda mais uma vez
Fiquei me questionando...
Porque a lágrima não tem cor?

Se ela fosse preta
Só expressaria o horror?
Porque será que a lágrima não tem cor?
A lágrima não tem cor...
Porque nem sempre exprime dor.
E se ela fosse roxa, como poderia
Expressar a alegria?
As lágrimas não têm cor
Porque são expressões da alma
Quando o espírito está chorando.
O coração diz: tenha calma!
Se a lágrima tivesse cor
Deveria ter a cor do amor.


Iara Franco

Com um lindo salto
Leve e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pisa e passa
Cuidadoso, de mansinho
Pega e corre, silencioso
Atrás de um pobre passarinho
E logo pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
Se num novelo
Fica enroscado
Ouriça o pêlo, mal-humorado
Um preguiçoso é o que ele é
E gosta muito de cafuné.

Com um lindo salto
Leve e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pisa e passa
Cuidadoso, de mansinho
Pega e corre, silencioso
Atrás de um pobre passarinho
E logo pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando à noite vem a fadiga
Toma seu banho
Passando a língua pela barriga.


Vínicius de Moraes

Nossa vida é um costurar constante...
É um indo e vindo, para alinhavar situações,
medir proporções com olhar absoluto, muitas vezes.
É pespontar atitudes, para ter resultados seguros.
É usar de retalhos de coisas passadas,
mas que muito
ainda servem para unir velhos desejos
a possíveis realizações.
É reforçar algumas opiniões,
forrando com determinação, garra e coragem.
Definitivamente...
...a vida é um atelier,
onde devemos exprimir dons e talentos,
aliados, sempre,
à humildade de ouvir o que outros tem a dizer.
E assim, de forma mansa, mas decidida,
definir o que, de fato,
nos propusemos a fazer.


Marília Ferreira de Oliveira