quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A POESIA SE ESFREGA NOS SERES E NAS COISAS




Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo que teus olhos vêem,
Um misto de tristeza numa paisagem grandiosa?
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das coisas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma virgem esquecida?
Num circo, nunca se apoderou de ti, um amargor sutil.
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Serem humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgastes diante de um avião
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!


Adalgisa Nery

A LÁGRIMA



- Faça-me o obséquio de trazer reunidos
Cloreto de sódio, água e albumina...
Ah! Basta isto, porque isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos!

-"A farmacologia e a medicina
Com a relatividade dos sentidos
Desconhecem os mil desconhecidos
Segredos dessa secreção divina"

- O farmacêutico me obtemperou. -
Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
Na ânsia física da última eficácia...

E logo a lágrima em meus olhos cai.
Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
Do que todas as drogas da farmácia!


Augusto dos Anjos


Como eu queria poder
Transformar-me num pássaro
Bateria asas e iria te ver.

Não importa com quem estejas
Nem onde se encontre.
O importante é que te veria
Antes do anoitecer.

Como eu queria ser o vento
Sairia do meu pensamento
Meu desejo viraria realidade
Apaziguaria meu coração
E a dor da minha saudade.


Maria José Speglich

LIVRO ABERTO




Eu gosto de livro, dos livros.
Livros abertos, livros fechados,
e até os lacrados, intocáveis.
Gosto da capa, das capas.
Do formato, em qualquer estado.

Dos prefácios, das palavras fáceis.
Das orelhas e, lombadas.
Da capa dura, da brochura, espiral.
Livros de romance, contos e espiritual.
Livros de arte, livros didáticos.

Poemas, crônica e policial.
Das primeiras páginas,
dos dados de catalogação, Copyright.
Eu gosto dos agradecimentos,
das homenagens e dedicatórias,
dos índices, apêndices, das páginas do miolo.

Do papel em que passo o olho,
dos escritores e escritoras,
dos poetas e das poesias.
Eu gosto do que lia, escrevia.
Gosto de livro, dos livros, científicos.
Antologia, livros de magia.

Da folha em branco, da escrivaninha.
Um orador, digitar no computador.
Da folha com linha, nasce o mais ilustre, filho do homem.
És livre, tornando a realização, de toda sua existência.
O livro vem de dentro, não vem do ventre.
Vem do coração, vem da mente.
Deixe-o perto, deixe o livro aberto.


Germano Gonçalves

domingo, 1 de dezembro de 2013

A MESMA ROSA AMARELA



Você tem quase tudo dela,
o mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela,
só não tem o meu amor.

Mas nestes dias de carnaval
para mim, você vai ser ela.
O mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela.
Mas não sei o que será
quando chegar a lembrança dela
e de você apenas restar
a mesma rosa amarela,
a mesma rosa amarela.


Carlos Pena Filho

INTIMIDADE



Quando, sorrindo, vais passando, e toda
Essa gente te mira cobiçosa,
És bela - e se te não comparo à rosa,
É que a rosa, bem vês, passou de moda...

Anda-me as vezes a cabeça a roda,
Atrás de ti também, flor caprichosa!
Nem pode haver, na multidão ruidosa,
Coisa mais linda, mais absurda e doida.

Mas é na intimidade e no segredo,
Quando tu coras e sorris a medo,
Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!

E não te quero nunca tanto (ouve isto)
Como quando por ti, por mim, por Cristo, juras
 - mentindo - que me tens amor...


Antero de Quental