sexta-feira, 6 de junho de 2014

ONOMÁSTICA



Se te chamasses Maria
a manhã que se prepara
em ti talvez moraria

ou, se te chamasses Clara
o teu nome despertasse
as luzes do fim do dia
para pintar tua face

mas quis chamar-te Alegria
o mistério de que és filha
e o teu nome apenas brilha
dentro da noite vazia.


Jayme Kopke

MULHER



Na face, a geografia da angústia,

Dos pânicos e das medrosas alegrias.
Cada ruga é um presságio.
E auréola da aflição constante
O esplendor dos cabelos brancos.

Uma só raiz para frutos diversos,
Uma só vida para destinos tão complexos,
Um só pranto para dores tão diversas.

O útero que gera o herói, o sábio, o poeta,
O santo, o miserável e o assassino.
Uma só raiz para frutos tão diversos!

O dom da paz em cada gesto
Cai como noites quietas
Sobre a alma em rancor,
Amor acima do amor.


Adalgisa Nery

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Agradeço a paciência de quem visitou esse meu querido blog, mesmo que por poucos minutos, e conviveu com as indesejáveis mensagens que citei nesse recadinho logo abaixo, que havia postado dias atrás.
Resolvi o problema com uma boa formatação. Tudo vale pelas minhas amadas poesias e para que meu blog continue lindo, para mim e para quem passe por aqui :)
Sejam sempre bem-vindos

beijos de Selmha


DESCULPEM PELO TRANSTORNO DAS MENSAGENS QUE APARECERÃO ALEATORIAMENTE - É VÍRUS QUE ESTOU TENTANDO NA MEDIDA DO POSSIVEL REMOVER.
AGRADEÇO A VISITA E ESPERO QUE ESSE PEQUENO PROBLEMA NÃO ALTERE O PRAZER DE LER AS BELAS POESIAS.
beijos de Selmha

domingo, 11 de maio de 2014

INSTRUÇÃO PRIMÁRIA


Não saibas: imagina…
Deixa falar o mestre, e devaneia…
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões…
Um á-bê-cê secreto
Que soletras à margem das lições…

Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...


Miguel Torga

TODO CORPO


Todo corpo
toda vida explica
nos seus rastros
sempre uma notícia
escrita nos seus traços
todos os anseios
no mover dos braços

todo corpo
traz um benefício
sobre suas curvas
e algum sacrifício
com lembranças turvas
marca suas dobras

todo corpo amado
ou desolado chora
toda sua virtude
e seu pecado aflora

todo corpo
mostra seus segredos
e encontra outros medos
quando abre os olhos

todo corpo
uma mente oculta

todo corpo é alma
enquanto vida pulsa

Cândida Alves

quinta-feira, 6 de março de 2014

DE AMOR



Chegaria tímido e olharia tua casa
A tua casa iluminada.
Teria vindo por caminhos longos
Atravessando noites e mais noites.

Olharia de longe o teu jardim.
Um ar fresco de quietação e repouso
Acalmaria a minha febre
E amansaria o meu coração aflito.


Ninguém saberia do meu amor:
Seria manso como as lágrimas,
Como as lágrimas de despedida.

Meu amor seria leve como as sombras.


Tanto receio de te amar, tanto receio...
A sombra do meu amor
Poderia agitar teu sono, perturbar o teu sossego...

Eu nem quero te amar, porque te amo demais.


Augusto Frederico Schmidt

O VÔO



Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-a de estrelas;
conserva a ilusão de que teu vôo te leva
sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro,
as canções que tem na garganta.
Canta! Canta para conservar uma
ilusão de festa e vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não é mais que um vôo no tempo.
Rumo ao céu?
Que importa a rota?
Voa e canta enquanto resistirem as asas.


Menotti Del Pichia

domingo, 26 de janeiro de 2014

ACABARAM-SE AS MARIAS





Antigamente era Maria, pra todo quanto é lado.
Assim como a primeira. Maria Aparecida, que foi a pioneira.
Maria Madalena, Maria de Lourdes, Maria de Fátima.
Maria Odete e Maria do Carmo.

Maria que todos abençoavam.
Todas as famílias faziam Jus, as Marias.
Maria mãe de Jesus nascia uma filha; Pronto! Era Maria.
Os tempos eram outros, época de idolatria.

Levava nome até em mercadoria, biscoito e Óleo Maria.
E era a mãe, a filha e a tia.
Só não existia Primaria, como a primavera.
Maria que não se acabava mais.

E até ajuntavam-se as Marias.
Ana Maria, Ângela Maria, Sonia Maria e Maria Inês.
Nascia Maria todo o mês.
E assim as Marias, multiplicavam-se.

Sem perder a posição, apareceram justaposições.
Marialva e Marinalva, Marisol e Marisa.
Sempre adiante, vieram as variantes.
Miriam e Marta, Marília e Marieta.

E era Maria que não acabava mais.
Hoje em dia são poucas as Marias.
Somente as nossas Tias, as que hoje, nasce nas famílias.
São as Ingrid e Carol, Stéfanie e Deise.

 Ainda assim, Marias são eternas meninas.



Germano Gonçalves

PARA FAZER UM SONETO





Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere um instante ocasional
neste curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial

Ai, adote uma atitude avara
se você preferir a cor local
não use mais que o sol da sua cara
e um pedaço de fundo de quintal

Se não procure o cinza e esta vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse
antes, deixe levá-lo a correnteza

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza
ponha tudo de lado e então comece.


Carlos Pena Filho