sábado, 31 de março de 2012

ESTAÇÃO SERTÃO


A seca me queima o rosto
Meu corpo fatigado - padece
Tenho pena da vida que levo
Entre espinhos, pesares - ela fenece.

Meu Deus! Olha para o meu sertão!
Anuncia o mandacaru em floração
Disse Deus - Acredita na nova estação!
Breve, virá flores - sem expiação.

E depois...todo meu pranto
Molha a estação da seca - Em flores
Tudo sorri - Surgiu algo de santo.

Os cactus, açucenas, turneras...abrem-se!
Quisera eu, saber agradecer
Da terra, os encantos do Pai - Em prece.


Ana Maria Marques

domingo, 25 de março de 2012

SENTADA NO DEGRAU DA ALMA



Estarei aqui… à tua espera
sentada no degrau da alma.
Sem subterfúgios
Sem ressentimentos
Sem desistências
de ti
de mim…!
Remendarei todos os sonhos rasgados
como se fossem papel.

Deixarei que floresçam de novo
com maior transparência.
Tu sabes…
Nos meus sonhos? Quem manda sou eu!

É nessa teimosia...
coberta de teias de aranha
que eu vou buscar ao sótão
do meu desencanto
as forças para recomeçar
tudo de novo.
Quero que lutes comigo, sempre!

Não desistas de nós
porque nem tu nem eu merecemos
a infertilidade da esperança!

Enquanto te espero, aqui...
sentada no degrau da alma
deixarei que o vento varra
o temporal do teu coração.
Que limes as tuas incertezas.
Permanecerei na esperança
derradeira...
De que a chuva que inunda
as tuas recordações,
forme de novo o velho riacho,
onde regredindo, fomos crianças
correndo nas verdes planícies
dos ideais mais do que puros.

Com sorrisos estridentes
a rasgar a fúria do vento…


Vóny Ferreira

terça-feira, 20 de março de 2012


Tantas vezes as palavras me perseguem
outras tantas eu que em vão as persigo
a inspiração que surge às vezes do nada
se esconde quando dela eu mais preciso

pois se surge ao vento um verso de repente
a mão afoita agarra e a retém segura
mas a força da mão é traída pela mente
se na fraca memória depois a procura

quisera ter caneta e papel nestes momentos
pois o traçado de uma em outra perdura
pelo mesmo tempo que tento em inútil esforço
no mundo da poesia, da criação e da aventura

sou só mas o papel em branco é meu companheiro
assim como o teclado ou a caneta e o tinteiro
pois as horas passageiras se passam num instante
nesta busca recorrente, inprofícua e desgastante


Benno Assmann

sexta-feira, 16 de março de 2012


Nem só de pão
minha alma se aconchega.
Mas em razão
dêem-me pão
que meu coração é de manteiga.

... É de manteiga pois derrete
com coisa pouca,
e se uma voz meiga
me promete
a paixão louca,
dá-me alimento
ao sentimento,
como se fosse pão à boca.


Tavico (Octávio Cardoso)

SABEDORIA


Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!

Faze da tua realidade
uma obra de beleza

Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece...


Ronald de Carvalho

terça-feira, 13 de março de 2012

RECADO AOS AMIGOS DISTANTES


Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.


Cecília Meireles

domingo, 11 de março de 2012

AGULHAS DE PRATA


Com agulhas de prata
de brilho tão fino
bordai as sedas do vosso destino.

Bordai as tristezas
de todos os dias
e repentinamente as alegrias.

Que fiquem as sedas
muito primorosas
mesmo com lágrimas presas nas rosas.

Com agulhas de prata
de brilho tão frio...
ai, bordai as sedas, sem partir o fio!


Cecília Meireles

quarta-feira, 7 de março de 2012

LUA-CORAÇÃO...


… E quando a lua fechar os olhos para ouvir a canção das estrelas
Será com tua imagem que ela estará sonhando

Porque esta lua é na verdade meu coração que te dei

Um coração lua...Cheio e brilhante quando está contigo
Um coração lua...Crescente quando sonha contigo
Um coração lua...Minguante quando esta longe de ti
Um coração lua...Novo somente para te fazer feliz

...E assim serei para sempre a lua de tua poesia
E você a poesia de meu coração-lua...


AlexSimas

sexta-feira, 2 de março de 2012

POEMA CULINÁRIO

No croquete de galinha,
A cebola batidinha
Com duas folhas de louro
Vale mais do que um tesouro
Também dois dentes de alho
Nunca serão espantalho.
(Ao contrário) E três tomates,
Em vez de causar dislates,
Sem peles e sem sementes,
São ajudas pertinentes
Ao lado do sal, da salsa,
(A receita nunca é falsa)
Todos bóiam na manteiga
De natural doce e meiga.
E para maior deleite,
Um copo e meio de leite.
Ah, me esqueci: três ovos
Bem graúdos e bem novos
Junto à farinha de rosca
(Espante-se logo a mosca)
Mais a pitada de óleo,
Sem se manchar o linóleo,
E mais farinha de trigo...
Ai, meu Deus, deixa comigo!


Carlos Drummond de Andrade