quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


Olá amigos

O "Todos os Sentidos" vai ficar sem atualizações por um tempo, somente retornarei com as postagens em janeiro de 2012.
Até lá estaremos de licença poética rsrs

Desejo a todos que me acompanharam, os que comentaram, meus seguidores e aos que passarem por aqui, um ótimo Natal e um Ano Novo com muita alegria e principalmente saúde.
Feliz festas e até 2012 - com muita poesia!

Beijos

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

DESENCONTRÁRIOS


Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.

Falou em mar, em céu,
em rosa, em grego, em
silêncio, em prosa.

Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.

Fazer poesia, eu sinto,
apenas isso.

Dar ordens a um exército,
para conquistar
um império extinto.


Paulo Leminski

Tenho dentro de mim as quatro estações,
...Mas sou apaixonada pelos dias ensolarados,
e por noites enfeitadas de estrelas brilhantes.

Minha razão me mantém com os pés no chão,
mas o meu coração guia os meus passos
e por isso eu consigo "voar".
Tenho personalidade do tipo bem forte.

Por vezes isso é bom, por outras,nem tanto.
Tenho um olhar que sempre enxerga além das aparências,
e os meus cinco sentidos são bem aguçados.

Gosto de tudo que é simples, e sou adepta aos detalhes.
Vivo cada instante intensamente, e me apego às emoções.
Todo dia, descubro novos motivos para acreditar.

Em mim, há uma paz que eu chamo de felicidade,
e sonhos... Muitos sonhos ...


(D.A)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

SOU LOUCO


Já vou avisando
Falo com anjos
Paquero borboletas
Flores encantam-me
Sou capaz desligar-me
Ao vento que trás vozes
Adocicadas ao meu ouvido
Falo sozinho pra vc que lê
Perco-me nas paisagens
De minha mente veloz
Sou um pouco atroz
Cabeçudo mesmo...
...Sou assim...
Um tanto largado
Um pouco enjoado
Algumas vezes
Estilhaçado

...riu...

Sou engraçadamente sério
Sisudo, às vezes, me calo
Sofro sozinho, me desespero
Mas não quero... Espero

Só não me veja
Mais louco que sou
Não sou do mal
Só sou...
Honestamente
Louco... Louco...


Flavio Castorino

EXALTAÇÃO


Venha!
Venha uma pura alegria
Que não tenha
Nem a senha
Nem o dia!

Abra-se a porta da vida
Sem se perguntar quem é!
E cada qual que decida
Se quer a alma aquecida
No lume da nova fé.

Venha!
Venha um sol que ninguém tenha
No seu coração gelado!
Venha
Uma fogueira de lenha
De todo o tempo passado!


Miguel Torga

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

POEMA DA ARROGÂNCIA


O que me é pouco
aos pobres é muito
mesmo os ricos
benfazejos e promíscuos
alimentam-se com escória.

Perdeu-se na história
o gosto pelo mais fino.
O que é esdruxulo
no presente,
torna-se no futuro um luxo.

Meus poemas são assim
sem padrão
nem perdão.
São beleza aos teus olhos
É fácil escrever
belas palavras
Não é fácil escrever
belos poemas.

Mortais escrevem
com a pena
Poetas escrevem
com a alma.


Luigi Rajão

SER MULHER


Ser mulher não é ter nas formas de escultura,

No traço do perfil, no corpo fascinante,
A beleza que um dia o tempo transfigura
E um olhar deslumbrado atrai a cada instante...

Ser mulher não é só ter a graça empolgante,
O feitiço absorvente, a lascívia e a ternura;
Ser mulher não é ter na carne provocante
A volúpia infernal que arrasta e desfigura...

Ser mulher é ter na alma essa imortal beleza
De quem sabe pensar com toda a sutileza
E no próprio ideal rara virtude alcança...

É ter, simples e pura, os sentimentos francos,
E ainda no fulgor dos seus cabelos brancos,
Sonhar como mulher, sentir como criança!


Carmen Cinira

quinta-feira, 17 de novembro de 2011



Saudade
quando chega
ninguém
se aconchega
não tem
jeito não
Saudade
quando aperta
a alma
fica deserta
tudo passa
a ser solidão
Saudade ingrata
você
quase me mata
Miúdo fica
o coração
Saudade triste
nada mais
existe
Me sinto só e vazio
em meio a multidão


GilbertoMaha

SEM SOLUÇÃO


Como não pude aprender algo
para chegar a ser alguém,
eu me dedico a bancar o escritor
para matar tempo.

Distração de loucos,
ofício de famintos,
disseram-me uma vez.

Outros correm,
invertem o dia
fazendo dinheiro.

Eu faço poesia.

Para que serve poesia?

Sabe-se lá.


Humberto Ak'abal

BAZAR DE ESPANTOS


Eu não tenho palavras, exceto duas
ou três que me acompanham desde sempre
desde que me desentendo por gente,
nas priscas eras em que era eu mesmo.
agora sou uma espécie de arremedo,
despido das minhas divinaturas.
Já não me atrevo ao ego sum qui sum.
Guardo no entanto em meu bazar de espantos
a palavra esplendor, a palavra fúria,
às vezes até me arrisco à palavra amor,
mesmo sabendo por trás de suas plumas
a improvável semântica das brumas
o rastro irremediável de outro verso
ou quem sabe a sintaxe do universo.


Rodrigo Garcia Lopes

QUANDO NÃO SE ACREDITA


A vida até que é boa
quando você não acredita
em comerciais de margarina
em novelas do manoel carlos

A vida até que é boa
quando você não acredita
em deus e o diabo
no certo e no errado

A vida até que é boa
quando você não acredita
em previsão do futuro
em remissão do passado

A vida é boa
quando não se acredita
quando ela simplesmente
(se fingindo acaso)
te surpreende.

Beatriz Provase

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PALAVRAS


As palavras do amor expiram como os versos,
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que não têm vida, existências que invento;

Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos
de pó, que o sopro espalha ao torvelim do vento,
raios de sol, no oceano entre as águas imersos
-As palavras da fé vivem num só momento…

Mas as palavras más, as do ódio e do despeito,
O “não!” que desengana, o “nunca!” que alucina,
E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas,

Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
Imóveis e imortais, como pedras geladas.


Olavo Bilac

SE MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR


Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!


Federico Garcia Lorca

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Nada que reflete
arremessa
ameaça
estremece

a minha pressa
não permite
ver o visto
sem ver o vasto

o que não remete
não me interessa
não me atiça

o que não existe
é relativo
se num dia me matam
no outro
já estou vivo.


Claudio Schuster

NÃO PISO EM OVOS


Não piso em ovos
para preservar
a paz encerada
engraxada
que guarda
o sorriso de Monalisa

Não piso em ovos
e todo cuidado
é m.u.i.t.o.
capacete demais
pra tanta
cabeça de vento

Eu prefiro enfiar o pé na jaca
mergulhar de cabeça
dar murro em ponta de faca
a pisar em ovos

Pisar em ovos
é tortura
Resistência não é força
é cabeça-dura
e o que você
chama de coragem
não passa de armadura.


Karla Jacobina

No céu de todo coração
Tem dia que chove
Tem dia que venta
Tem dia que esquenta.

No meu, quando te vejo
Arregala um sol
Tão grande
Tão feliz
Tão amarelo
Que eu até me esfarelo...

De amor.

Pedro Antonio de Oliveira

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PALHAÇO DE MIM


Tira a máscara palhaço,
deixa a lágrima rolar,
Palhaço do peito de aço
caminha no teu cadafalso
nos lábios o gosto do mar.
Deixa rolar a tristeza
em gotas salobras na face
baixou o pano, certeza,
esquece a tua grandeza
tira da cara o disfarce
Chora palhaço o teu pranto
ninguém há de o perceber
pranteia só, no teu canto,
esconde de todos o espanto
d'o palhaço também sofrer.


Jorge Linhaça

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

COLCHA DE RETALHOS


Nós somos uma colcha de retalhos
Tantos os remendos e os enchimentos.
Tantas as preguiças e os esquecimentos
Poucos os passos e tantos os atalhos.

Nós somos, é triste, uma babel humana
O que eu falo, você não compreende.
E isso fere, isso machuca e rende
Uma dor profunda, uma dor insana.

Faltou talento, pra endireitar o rumo
Sobrou vontade, pra espremer o sumo
E nesse vai-e-vem, nenhuma herança.

Vamos levar depois de tantos anos
Porque pintamos, apenas, desenganos
No quadro triste da nossa lembrança.


Amaro Vaz Filho

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DILÚVIO

Foi quando pus meus olhos chuvosos
Sobre o mar em tempestade
E provei-lhe o sal amargo
Que percebi
Quão extenso e profundo seria
O mar das minhas dores
O pranto que tenho chorado
Talvez fosse de uma imensidão maior
Que toda essa convulsão de águas bravias

Mas foi, enfim
Quando chegou a calmaria
Nas cores do azul do dia
Que aprendi a paz
Que a tormenta adormecia
Atrás do tranco dos soluços,
Atravessada à ondas tardias

Até mesmo aos condenados
Dá-se um último desejo
Desejo eu
Que o silêncio que ora me invade
Nesse imenso mar de mim
Seja da paz, mensageiro
Cessando a tormenta, enfim.


Célia Sena

domingo, 23 de outubro de 2011

BRINCADEIRA DE MAU GOSTO


Se pensas
que penso
que tu me queres
tanto quanto
te quero
Penso
que não pensas
o quanto
em ti penso
e o quanto me feres
e penso
porque te espero
Se este amor
chegou a ti
desta maneira
da maneira
que chegou a mim
saberias
que não é brincadeira
pois brincadeira
não machuca assim


Gilberto Maha

Cansado de lutar corro ao meu leito
para o repouso a que meu corpo aspira

mas minha mente, à hora em que me deito

trabalha em mim, quando o trabalho expira.


Pois já meus pensamentos bem despertos

correm, ciumentos para a tua busca,

e conservo os meus olhos bem abertos

olhando a escuridão que o cego ofusca.


Minh’alma em sonho vê tua figura

que, como se essa sombra me cegasse
-
jóia brilhando sobre a noite escura

faz bela a noite e nova a sua face.

Assim de dia o corpo e à noite a alma,
por ti, como por mim,
não acha calma.


William Shakespeare

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

JURAS DE AMOR


Juro pelos Girassóis de Van Gogh
Pelos Relógios Moles de Salvador Dali
Pelos versos de Fernando Pessoa
Pela Estátua de Davi

Juro pela Odisséia de Homero
Pelo Édipo Rei de Sófocles
Pelas Sinfonias de Beethoven
Pela sapiência de Sócrates

Juro pelo Dom Quixote de Cervantes
Pela Mona Lisa de Leonardo da Vinci
Juro pela Divina Comédia de Dante

Juro por tudo em que me ufano
Pela sabedoria de Confúcio
Juro por Deus que te amo !


Cosme Custódio

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

REZA


Tem que haver um espaço para nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.
Tem que haver para nós dois um tema
que fale de flores.
Tem que haver uma canção
de versos sofridos, amargos e doces.
Tem que haver uma oração
que fale de ciúmes, de saudade, de perdão,
que abençoe os beijos
e os desejos retumbantes.
Pra quando chegar o fim do dia
possa ser a Ave - Maria dos amantes


Flora Figueiredo

REDE NOTURNA


Chove.

Viro a taça degustando uma
saudade.

Não pergunte que eu lhe conto
até os silêncios que enterrei
na infância.

Deito na interrogação,
devaneio,
divãneio
e só calo reticente pra você
subentender.

Teço colcha em seu ouvido
ausente
com a linha que puxei
do carretel de meu
desejo.

Falarei de aprendizado,
de sorriso,
de esperança...
Não interessa.

Chove e é madrugada.

As palavras são somente
porque não há beijos.


Raiça Bonfim

terça-feira, 4 de outubro de 2011

BENEDICITE!


Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto
E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez aos beijos do sol, o oiro brotar, do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano,
E o que inventou o canto e o que criou a lira,
E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano…

Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!


Olavo Bilac

terça-feira, 27 de setembro de 2011

ALÉM-ALMA


Meu coração lá longe
Faz sinal que quer voltar.
Já no peito trago em bronze:
NÃO TEM VAGA NEM LUGAR.
Pra que me serve um negócio
Que não cessa de bater?
Mais me parece um relógio
Que acaba de enlouquecer.
Pra que é que eu quero quem chora,
Se estou tão bem assim,
E o vazio que vai lá fora
Cai macio dentro de mim?


Paulo Leminski

sábado, 24 de setembro de 2011

ENTRE-TANTOS...


Penso que poemas
São segredos
Ocultos no óbvio

À solta no ar, na vida

Nos sentimentos todos,

Na lida

Estanques, ligeiros,

Prenúncios, certeiros,

À espera apenas

De que entre tantos entretantos,

Tantos surdos-mudos-cegos,

Haja um ou outro

Capaz de percebê-los,

Colher os sinais,

Traduzir em versos,

E assim, se possam vê-los.



Célia Sena

sábado, 17 de setembro de 2011

FOGO E PAIXÃO


Algo que cresce,
Que me puxa
E que me empurra.
Algo acontece,
Que me leva
E que me busca.

Algo urgente, antes dormente,
Vai acordando.
Algo com pressa, que nunca cessa,
Estou amando!

Amor, amor
Fogo e paixão
Amor, amor
Como enganar o coração?

Como fazer dormir de novo
O que acordou?
Como controlar essa vontade
Que me dominou?

Amor, amor
Fogo e paixão
Amor, amor
Já enganei o coração?


Regiane Martins Folter

REAL OU REALEZA?


A moça olha no espelho
Procurando ter
Aquilo que os olhos
Não precisavam ver.

Ela não busca um sorriso
Ou algum traço de alegria
Não faz um exame preciso
Para achar marcas de sabedoria.

Ela quer uma tez de marfim
Lábios grossos, olhos sublimes
Ela quer ser um manequim
Igual àquele que viu na vitrine.

Ela quer ver, extasiada,
Beleza eterna, porte fantástico
Cópia de uma linda moda
Mas com um coração de plástico.

Tantas idéias, tantas belezas
O que vale mais a pena:
Ser real ou realeza?


Regiane Martins Folter

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SONETO


Por que meu verso é sempre tão carente
De mutações e variação de temas?
Por que não olho as coisas do presente
Atrás de outras receitas e sistemas?

Por que só escrevo essa monotonia
Tão incapaz de produzir inventos
Que cada verso quase denuncia
Meu nome e seu lugar de nascimento?

Pois saiba, amor, só escrevo a seu respeito
E sobre o amor, são meus únicos temas.
E assim vou refazendo o que foi feito,

Reinventando as palavras do poema.
Como o sol, novo e velho a cada dia,
O meu amor rediz o que dizia.


William Shakespeare

domingo, 11 de setembro de 2011

COGITO


Eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.


Torquato Neto

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

LIBERDADE QUE ESTAIS EM MIM


– Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade onipotente
Nem me ouvia.

– Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.


Miguel Torga