domingo, 30 de maio de 2010

OS IMORTAIS

Imortal
É quem sabe ler os lábios,
Obedecer aos olhos,
Ouvir o silêncio interior
E arrepiar a pele sem tocá-la.

Imortal

É quem sabe beijar sem boca
Nas horas mais agônicas da vida,
Inebriar-se com paisagens alheias
Mesmo com vendas escuras nos olhos,
Abandonar o sono letárgico
Sem a ajuda cruel do despertador,
Deixar-se penetrar sem fendas
Como óvulo à mercê do espermatozóide.

Imortal

É quem sabe amar sem coração.
É quem sabe absolver sem penitências.
Escrever sem palavras.
Perdoar sem crença.
Rezar sem fé.
Ensinar sem nunca ter aprendido.

Imortal

É quem morre à noite
Como um anão derrotado
E ressuscita na manhã seguinte
Como um gigante indomável,
Todos os dias,
O tempo todo.


Oswaldo Antonio Begiato

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SEGREDOS DO SILÊNCIO


Eu te escrevo, embora ninguém entenda
que nesse silêncio te revelo meus segredos;
escrevo e te amo, porque não há outra forma
de passar pela vida se não passares comigo;

Me guarde perto das coisas que levaste

para contar quando tudo já estiver tarde;
me eternize num feliz retrato que nenhum poema
ainda conheceu, pois que é só teu meu riso;

Não me esqueça, não me deixa, nem parta,

porque agora a inspiração é farta
de tanta rima que surge no teu beijo;

E quando te tenho, e te recebo,

e vens me invadindo o mundo
ah, por esse segundo

eu daria a eternidade inteira.


Cáh Morandi


quarta-feira, 26 de maio de 2010

URGÊNCIA DE VIVER


Gostaria de aquietar-me um pouco...
Contemplar, refletir, extrair
de mim o melhor ou o pior;
da vida o que ela oferece;
do outro suas possibilidades.
Às vezes, falta-me tempo:
a vida corre para acabar
- sina urbana.
Na urgência de viver
anestesio olhos e ouvidos,
os que alimentam minh’alma!
Com a boca cheia,
a alma vazia
vaga...
ou melhor, corre.
Esquece-se de si, da vida, do outro...
necessita sofregamente
chegar a lugar algum.

Lou Vilela

sábado, 22 de maio de 2010

IDENTIDADE



Sou assim…

Sou casa em ruínas, abrigo de estrelas
Paisagem deserta, nascente de rio
Sou capa, sou xale tremendo de frio
Sou espelho e vidraça das tuas janelas
Sim, eu sou assim…
Um Ser de silêncio, fiel companheiro
Que acalma e que beija a alma que dói
E em mudas palavras, se dá por inteiro
Semeando gritos que o vento destrói
Sou...
Sou amarra, sou asa
Sou contradição
Sou nuvem que passa
Sempre em solidão.


Maria João

quinta-feira, 20 de maio de 2010

DERRUBE O CORVO!



Derrube o corvo
Que grita dentro de ti
Metralhe-o...
Com uma gargalhada.

Faça suas penas
Se espalharem pela cidade
E todos saberão:
Que o teu “eu agourento” tombou.

Quebre o tronco onde ele se esconde...
Feitos de lembranças feias e dores
Modelado em sentimentos ruins.
Faça ele ruir...Com raios de esperança.

Fure os olhos desse safado
Que só sabe olhar pro lado
Das desgraças e da falta.
Mostre que a abundância
Vem de dentro... E vem do alto!
Arrase a falta...Com gratidão!

Corte as asas da auto-sabotagem
Mostre que quem tem coragem
Se não tem asas... Vai a pé!
Mas sempre chega onde quer!

Crie coragem
Derrube o corvo
Que ronda tua mente
Que te faz ser descrente
E não te deixa voar.

Derrube o corvo
Que grita dentro de ti
Metralhe-o...
Com uma gargalhada!


Victtoria Rossini

quarta-feira, 19 de maio de 2010

CONTRADIÇÃO


Ir ao encontro da dor
para aliviar-se em seu bálsamo ...
Mostrar-se fraco
e assim
fortalecer-se em sua condição humana ...

Embriagar-se com a loucura
servida pela própria razão ...
Prender-se a pessoa amada
e sentir que é essa
a liberdade que sempre sonhou ...

Viver na ordem contraditória do querer
e ter a certeza
que amar
é encontrar calmaria
no olho do furacão...

Marcelo Roque

terça-feira, 18 de maio de 2010

ENIGMA



sou este ponto de espanto
no entra-e-sai – no vai-e-vem
metade de mim é quando
a outra metade é quem

parte em mim é desespero
outra parte desencanto
só sei ser múltiplo inteiro
quando eu amo – quando eu canto

tento juntar os pedaços
passos, pessoas passadas
não sei onde estão meus rastros
meu retrato mais exato

entre estes cacos e restos
nem perfil nem biografia
se me perdi nos meus versos
um dia viro poesia

Cairo Trindade

sexta-feira, 14 de maio de 2010

PERFIL


Não. Não tenho limites.
Quero de tudo
Tudo.
O ramo que sacudo
Fica varejado.
Já nascido em pecado,
Todos são naturais
À minha condição,
Que quando, por exceção,
Os não pratico
É que me mortifico.
Alma perdida
Antes de se perder,
Sou uma fonte incontida
De viver.
E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida.

Miguel Torga


segunda-feira, 10 de maio de 2010

A ESPERA


Aqui onde o exílio
dói como agulhas fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da
garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio de Andrade

SÚPLICA


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,

E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.


Miguel Torga

PALAVRAS

São como beijos
Que afloram a minha alma.
São seiva que me alimenta,
São promessa que me acalma.

São pedaços de quem ama,

Feitas de sonhos perfeitos
Sonhadas em qualquer cama,
Por entre lençóis desfeitos.

Enlaçadas uma a uma,

Falam comigo em segredo,
São como ondas de espuma,
Onde mergulho, sem medo.

Outras há, feitas de lume

Que acendem uma fogueira.
Ardem no peito da gente,
Que grita, sem um queixume.

Palavras...

Às vezes, durmo com elas,
Atadas com nós e laços...
Acordam ainda mais belas,
Presas a mim, como abraços.


Baby



quarta-feira, 5 de maio de 2010

MEU PECADO FAVORITO


Estou perdido de amores por ti
Mas ainda nem senti teu corpo
Nem provei teu beijo,
Apenas tua imagem em meus desejos,
Segue tua silhueta no horizonte.

Tu és o fogo que minhas veias incendeia,
A luz que meus passos, ilumina,
Seduz e alucina
Meu doce perigo.

És como uma canção,
Ao vento, imaginária,
Dissipando a solidão.

Como uma cascata de águas cálidas,
Seguindo seu curso lentamente.

És meu fruto proibido,
O jardim onde não posso entrar,
És o meu sonho escondido,
Que a realidade vai mostrar,
És o meu pecado favorito.


Daniel Fiuza

domingo, 2 de maio de 2010

DENTRO E FORA



Por fora, tenho tantos anos,
que você nem acredita.
Por dentro, doze ou menos,
e me acho mais bonita.

Por fora, óculos;
algumas rugas, gordurinhas,
prata nos tintos cabelos.
Por dentro sou dourada,
Alma imaculada, corpo de modelo.

Por fora, em aluviões,
batem paixões contra o peito.
Paixões por versos, pinturas,
filosofia e amigos sem despeito.
Por dentro, sei me cuidar,
vivo a brincar, meio sem jeito.
Não me derrota a tristeza;
não me oprime a saudade;
não me demoro padecente.

E é por viver contente,
que concluo sem demora:
é a menina que vive por dentro,
que alegra a mulher de fora!!!


Luan Jessan

VAI SABER



Mesmo que eu disser,
Meia dúzia de palavras em francês,
Todas elas, te propondo um talvez.
Vai te alcançar?

Se eu te convencer,
Que o meu telefonema é surreal.
Algo perto de Jobim, tanto e tal.
Vai me atender?

Posso revelar,
Toda a meia-verdade sobre mim.
Todas as belas vantagens de um sim.
Se você deixar.

Pode ser,
Que o amor não tenha vindo deste chão.
Foi expulso por luxúria de Plutão.
Vai saber

Já passou das onze meu bem.
Já é hora de perguntar.
Quem ama, a pressa tem.
De amar alguém.

Venha ver o Sol daqui.
Guardei perto o seu lugar.
Nunca deixe um céu em vão.
Vou te esperar.

(M.Basso)