quinta-feira, 30 de junho de 2011

MARILIA DE DIRCEU


Marília, de que te queixas?
De que te roubou Dirceu
O sincero coração?
Não te deu também o seu?
E tu, Marília, primeiro
Não lhe lançaste o grilhão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?

Em torno das castas pombas,
Não rulam ternos pombinhos?
E rulam, Marília, em vão?
Não se afagam c'os biquinhos?
E a prova de mais ternura
Não os arrasta a paixão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?

Já viste, minha Marília,
Avezinhas, que não façam
Os seus ninhos no verão?
Aquelas, com que se enlaçam,
Não vão cantar-lhes defronte
Do mole pouso, em que estão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?

Se os peixes, Marília, geram
Nos bravos mares, e rios,
Tudo efeitos de Amor são.
Amam os brutos ímpios,
A serpente venenosa,
A onça, o tigre, o leão.
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?

As grandes Deusas do Céu
Sentem a seta tirana
Da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
Não se abrasa, não suspira
Pelo amor de Endimião?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção?

Desiste, Marília bela,
De uma queixa sustentada
Só na altiva opinião.
Esta chama é inspirada
Pelo Céu; pois nela assenta
A nossa conservação.

Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Não deve ter isenção.


Tomás Antonio Gonzaga

QUANDO, NÃO SEI...


Há-de chegar o dia
em que a minha tristeza há-de acabar...
Tudo finda,.. renasce e recomeça...
E esta tristeza há-de ter fim!
E então minha alegria há-de voltar!...

Só tenho medo
que, quando ela regressar
eu esteja tão cansada de viver,
que não chegue a festejar
esta ânsia enorme de vencer!

Sim, porque da tristeza sempre fica
um jeito desolado...
Mas não! Eu hei-de ser alegre,
e endoidecer cá dentro
toda a amargura do passado!

Mas não tardes a realidade do meu sonho!
Porque há quem morra de saudade e dor!
E eu não sei se terei vida que chegue
se a tua demora for mais longa, meu amor!


Judith Teixeira

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AGORA OUÇAM


Agora ouçam, amantes, meus amigos:
O amor é uma coisa preciosa;
Não agracia a todos.
O amor é uma coisa decorosa.

Ele faz montes de cinza das colinas,
Nos corações, rastros de chamas,
Transforma sultões em vassalos -
O amor é uma coisa corajosa.

O homem golpeado pela seta do amor
Primeiro, não sente nenhuma dor nem tristeza,
Entretanto, lamenta e grita com aflição:
O amor é um coisa torturante.

Faz o mar enfurecer-se e ferver,
Arremessar ondas enormes em tumulto,
E faz pedras falarem da terra:
O amor é uma coisa vigorosa.

Yunus, o místico, está indefeso;
Ninguém compartilha sua angústia.
Seu banquete é a carícia do Amigo:
O amor é uma coisa deliciosa.


Yunus Emre

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Busca-O em teu mundo


Ainda que o mundo esteja impregnado de Deus,
ninguém alcança ver Seu mistério.
Se queres vê-Lo, busca-O em teu mundo,
descobrirás então que Ele não está distante.

Esta terra sobre a qual caminhas,
esta comida com que te alimentas,
se crês que são tuas, te equivocas.
O outro mundo se acha fora de minha vista,
a virtude é o que fica neste mundo.

A dor da ausência é demasiado amarga,
ninguém voltou uma vez que partiu,
mas o que vem a este vale partirá, sem remédio;
todo ser humano desta bebida tomará.

A vida é uma longa ponte
pela qual passam todos, velhos ou jovens;
pois vinde, vamos ser amigos,
a vida será mais fácil para nós,
amemos e que nos amem todos,
pois este mundo não fica para ninguém.

Se escutas e entendes as palavras de Yunus,
seguramente as aproveitarás:
este mundo não fica para ninguém.


Yunus Emre
(poeta turco e considerado místico sufista)

sábado, 18 de junho de 2011

EU SEI...


Não sei. Antes eu via tantas cores,
Os campos cheios de luz e glória...
O belo era palco para qualquer história,
Da janela via-se um jardim de flores,

Tudo está mudado, como nunca esteve,
E dentro de mim não há a beleza de antes.
Não noto a beleza do que via a instantes,
O belo passou rápido como brisa leve.

É um momento, eu sei, vem algo que não li.
E em minha mente algo bom ainda há de fluir.
Sensações que tinha antes e ainda vou sentir,
Algo mais belo que qualquer coisa que já vi.

É só um momento, eu sei, como se fosse um transe,
Onde fogem de mim qualquer nova idéia,
Qualquer coisa que seja bela ou feia,
Um sonho que se transforme em romance.


Betânia Uchôa

NA NOITE DESSA VIDA


Numa noite fria assim
queria tanto você pra mim


Numa noite tão escura

só queria sua ternura


Numa noite tão deserta

queria só uma porta aberta


Numa noite tão linda

te desejo mais ainda


Numa noite tão distante

só preciso de um instante


Numa noite tão imensa
queria essa paixão intensa


Numa noite tão iluminada

quero a minha amada


Na noite ou no amanhecer

só quero namorar você


Na noite dessa vida

um coração um tanto só

quer tanto outro coração...

...só.



João Marcos

domingo, 12 de junho de 2011

PARA SEMPRE SAUDADES MINHA MÃE


Desejo primeiramente registrar o motivo da minha falta de atividades no "Todos os Sentidos" e nos meus outros blogs para os amigos que me visitaram e não tiveram a oportunidade de entrar em contato comigo.

Me retirei da internet nesses últimos dias por motivos pessoais - minha mãe faleceu no dia 03 de Junho e fiquei sem condições de qualquer outra coisa além de sofrer e viver esse momento doloroso.


Agradeço às manifestações de carinho e solidariedade que recebi de alguns amigos que se comunicam frequentemente comigo por email e que indagando a causa de minha ausência, souberam do falecimento de minha mãe.


Os que não sabiam, agora entenderão a falta de atualizações - já que estão acostumados a verem minhas postagens constantes.


Dificil é o entendimento, mas a aceitação é obrigatória - então só me resta aceitar e continuar...com minhas poesias que tanto amo, com minhas pesquisas de artes, com os amigos virtuais...com minha vida.

Vida que segue, sempre em frente. Que na falta não me falte a vida.
E só me resta a saudade, sem desespero, sem remorso nem arrepedimentos - certeza de dever de filha cumprido total e amorosamente.

Minha mami me fez muito feliz, e eu devolvi essa felicidade amando-a intensamente e continuarei amando enquanto tiver meu tempo a cumprir.


Beijos meus a todos.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

CONFISSÃO INICIAL


Às vezes, tenho a impressão
de que não devia publicar estas palavras
nascidas para viverem em surdina
ao teu ouvido.
Às vezes penso que deveria deixar no limbo
do coração
estas palavras de ti e para ti
e que tomaram imprevistamente
a forma de canção.
Estas palavras que te colhem toda
e te deixam nua,
e me dão a impressão de que também
tenho nu o coração, em plena rua.


J.G. de Araújo Jorge

PASSAGEM


Entre fantasia e realidade
invento cores
entre solidão e a lágrima
eu canto.

Se a verdade queima meus sonhos
e a dor arde insuportável
eu choro até a noite acabar.

Depois eu lavo o rosto,
tomo meu café
e saio de bicicleta
à procura de outros caminhos.


Flávia Menegaz

OBRIGAÇÃO "SOCIAL"


Exclusão social
pressão da maioria
ou necessidade existencial?
No meu caso, escolha própria.

Sou um ser social
que escolheu não me alocar
expeli-me por não ser banal
não escolhi me afastar

afastei-me por não ter escolha
tola e esquizofrênica necessidade de incluir-se
grupos que não se sentem e juntam-se a toa
outros que lutam sós, sem o poder de uma comunidade.

Distorções existenciais de falta de vida
falta de sensibilidade de perceber a si mesmo
numerosas companhias para compensar a insuficiência
nem percebe nem é percebido.

Escolhi gozar de minha convivência
mesmo na presença de quem se quer desviar
por isso recorro à palavra
para amenizar a sociedade do ensartar.

Continuo convivendo, preciso, necessito, sou obrigado
mas só com a palavra vivo minha utópica sociedade
Nesta troca ela não me cobra, força ou exige legado
quando com ela, não negocio minha outra metade.
Doou-me e sou contemplado.


Edvan Barreto

quarta-feira, 1 de junho de 2011

RELÍQUIAS


Nesta velha caixinha abandonada,
que a ação do tempo fez mudar de cor,
retalhos de minh’alma emocionada
guardei, outrora, com carinho e amor...

Relíquias... Eram cantos de alvorada,
e hoje traduzem nostalgia e dor.
Restos mortais de uma ilusão dourada,
vago perfume de sidérea flor.

Ai, tudo o vento do destino leva:
A luz se apaga e, a divagar em treva,
erram lembranças que doridas são!

Na vida é tudo assim! Tudo envelhece
mas, dentro d’alma o sonho não fenece
e o coração... é sempre o coração.


Emiliana Delminda

Ah, destino
enquanto te debulhas em marcar
o meu próximo passo,
um pássaro me oferta suas asas
e o sol arrefece seus raios
para me ver alçar vôo.

E quando penso que enfim driblei
a tua fúria, tu, agasalhado na
imponderável sina, não respeitas
o meu desejo de rasgar as distâncias.
Ris da minha pretensão de querer
arrebentar as amarras
e astuciosamente planejas a minha queda.

E tão bruscamente me fazes enxergar
que era de crepom o pássaro e inconsistentes
as asas, que esqueço de te condenar
e me censuro por sonhar tão alto.


Aíla Sampaio

SINGULARIDADES


Não deixei de amar. Nunca deixo.
Muito pelo contrário: aprendi a amar
todas as coisas bobas que desabrocham
no meio do caminho.

Coisas que ficam, fazem poesias,
pregam surpresas nos dias e que nunca,
nunca vão embora.

Essas singularidades desmedidas
que acreditam que mesmo assim pequenina,
a dor também vem para colaborar com a permanência
de outras, também coisas.

Porque as minhas mãos não conseguem tocar o mundo sozinhas
quando os olhos (que ainda são os mesmos) mudam as lentes
e preparam novos horizontes, novos mares e voos...

Sou do tempo do: navegar é mais do que preciso apesar da escassez
das ondas e dos eventuais bons pensamentos que esquecemos de soprar.


Priscila Rôde