quarta-feira, 27 de julho de 2011

VOTOS DE SUBMISSÃO


Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...

Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro.

E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.

Nos meses de outono eu varro a sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.

O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas -
Depois plantarei pra ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
pare serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.
- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.

(nem vou deixar – mesmo querendo – nenhuma fotografia.
Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda a minha poesia).


Fernanda Young

domingo, 24 de julho de 2011

EPITÁFIO


E se eu de fato
Morrer de amor
Fato pouco provável
Posto que amar
é provar da vida
Em todos os seus favos

Se ainda assim
Acontecer que eu morra,
Escrevam na lápide
Da minha sepultura:
"Jaz aqui, alguém
Que morreu de overdose,
De amor, em essência pura"


Célia Sena

SOPROS DE POESIAS


Quis chorar
quis morrer
só porque
só porque
perdi toda
minha alegria
Quis gritar
quis correr
só porque
só porque
de tudo
nada
eu sabia
Quis assar
quis ferver
toda minha
toda aquela
minha agonia
Só depois
fui entender
que chorar
e morrer
Que gritar
e correr
Que assar
e ferver
não passava
de uma covardia
Hoje vivo
a cantar
a sorrir
e bailar
Enterrei
de vez
toda minha
melancolia
Melhor mesmo
é criar
e se puder
por aí
recitar
sopros
de poesias.


Gilberto Maha

segunda-feira, 18 de julho de 2011


Eu não juro nada
Por coisa alguma,
pois que todo caminho é incerteza.
A ordem se desarruma,
a história se desajeita,
o arranjo troca de lado e vira a mesa.

Tampouco prometo.
Nesse jogo de regras e tratos,
rolam os dados,
mudam os fatos,
num ciclone célere, inclemente.

Só o que posso é me entregar completamente
a toda causa que me dedicar,
a cada tempo que eu puder viver,
a cada amor que me fizer amar.


Flora Figueiredo

sábado, 16 de julho de 2011

PARA SEMPRE


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 15 de julho de 2011

ENGANO NO AMOR!


Desprezo? Não... Não chegaria a tanto,
Minha alma o quis num passado tristonho,
O conheci numa noite em pleno sonho
Desde então varri da mente todo o encanto...

Vazio? Não... Não quero em mim o pranto
Nem deixar alguém triste, magoado,
Deixe que o sentimento morra, seja enterrado
Como um pesadelo esquecido num canto

Ah! Já me refiz de quedas constantes!
Quero esquecer mais esta, que fique distante,
Saio de cena, calma e serena!

Deixar um sentimento que assim termina,
Sem mágoa, sem dor, nada que se lastima.
Amor? Até que sinto, mas não quero pena.


Betânia Uchoa

quinta-feira, 14 de julho de 2011

ELEGIAZINHA


Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.


Nelson Ascher

PODE TER O AMORES QUE QUISERES


Podes dizer que me não amas,
sim, podes dizê-lo,
e o mundo acreditar,
porque só eu saberei
que mentes!

Eu estou na tua alma
como a flama
que devora sob a cinza
as brasas dormentes...

Não creias no remorso
- o remorso não existe!
O que tu sentes
e o que em ti subsiste,
são o rubor da minha ternura
e a chama do meu amor
que em ti
nunca foram ausentes!...

Não julgues, não, que me esqueceste,
porque mentes a ti mesmo
se o disseres…
Podes ter os amores que quiseres,
que o teu amor por mim,
como uma dor latente e compungida,
há-de acompanhar sempre
a tua e a minha vida!


Judith Teixeira

segunda-feira, 11 de julho de 2011

IN ALEGRIAS QUE VOLTAM


Eu te amo,
como quem rabisca a parede,
brinca de pique,
pula um riacho.
Sem que saibas o quanto,
eu te amo,
de esconde-esconde,
por enquanto...

Eu te quero,
como o menino quer a bala,
o chocolate,
a bola de gude,
o sorvete!

Eu te amo como quem sabe
que o doce,
tem paladar efêmero,
e a infância,
gosto eterno!


Eurídice Hespanhol

sábado, 9 de julho de 2011

APRESENTAÇÃO

Aqui está a minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.

Aqui está a minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.

Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está a minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento.


Cecília Meireles

A CASA DE HÓSPEDES


O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além.


Rumi

INDECIFRADA


Sou feita de intensidade.
Em mim, não comportam poucas coisas...
Amo e odeio na mesma proporção,
ainda que não haja lógica ou compreensão.

Sou desenfreada,
explosão...charada!
Sem lógica, sem hemisférios...
Indecifrada!

Sou pecado confessado,
sem culpa...abençoado!
Sou tudo o que quero ser,
ainda que do lado errado!


Mell Glitter

segunda-feira, 4 de julho de 2011

SOLIDÃO


Abre-se a porta
Numa esperança vã,
O vento lá fora
Atrasa o amanhã.
A noite já longa
Apraz-me com a solidão
Da melancolia que ronda
As margens do meu chão.
A dureza da verdade é o limite
Da cruel realidade que me transmite,
Que querer negar que sofro,
É covardia…
Querer parar o choro,
Fantasia…
Aperto tua foto contra o peito,
Acarinho-a, dou-lhe beijos,
É o meu jeito…
Eu sei!

Não consigo recuar o tempo,
Mas tudo o que escrevo e digo
É sentimento!


Ana Martins