quinta-feira, 6 de março de 2014

DE AMOR



Chegaria tímido e olharia tua casa
A tua casa iluminada.
Teria vindo por caminhos longos
Atravessando noites e mais noites.

Olharia de longe o teu jardim.
Um ar fresco de quietação e repouso
Acalmaria a minha febre
E amansaria o meu coração aflito.


Ninguém saberia do meu amor:
Seria manso como as lágrimas,
Como as lágrimas de despedida.

Meu amor seria leve como as sombras.


Tanto receio de te amar, tanto receio...
A sombra do meu amor
Poderia agitar teu sono, perturbar o teu sossego...

Eu nem quero te amar, porque te amo demais.


Augusto Frederico Schmidt

O VÔO



Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-a de estrelas;
conserva a ilusão de que teu vôo te leva
sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro,
as canções que tem na garganta.
Canta! Canta para conservar uma
ilusão de festa e vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não é mais que um vôo no tempo.
Rumo ao céu?
Que importa a rota?
Voa e canta enquanto resistirem as asas.


Menotti Del Pichia