terça-feira, 28 de setembro de 2010

POESIA!

Abra essa garrafa,
É vinho d’outra safra,
É poesia curtida,
Mas pode ser sorvida.

É perfume de alfazema,
Composto em um poema,
Veste a alma de alegria,
Desaperta em si a magia.

Todo poema é assim,
Um mar azul sem fim,
Água que beija a areia,
Ao canto de uma sereia.

E quando fala de amor,
O coração vira flor,
A alma se veste de lua,
E a paz se torna nua.

Na verdade me inebria,
Quando me toma a poesia,
Me eleva ao paraíso,
E de mais nada eu preciso.


Santaroza

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DEIXA O OLHAR DO MUNDO




Deixa que o olhar do mundo enfim devasse

Teu grande amor que é teu maior segredo!

Que terias perdido, se, mais cedo,

Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos!

Mostra-me sem medo

Aos homens, afrontando-os face a face:

Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais!

Ando tão cheio

Deste amor, que minh'alma se consome

De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:

E, fatigado de calar teu nome,

Quase o revelo no final de um verso.


Olavo Bilac

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

NÃO POSSO ADIAR O AMOR


Não posso adiar o amor para outro século

não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora imprecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


António Ramos Rosa

FOME



E o que acontece ao homem
que é criança e que não come?
Sonhará além do abdômen?
Terá nome ou só pronome?
E o amor dos que não comem?
Vem? Vinga? Ou some?
E os desejos que não engolem?
Que se dane ou que se dome?
Como? Quando não comem?
Se o vazio que os consome
engole os que nada engolem?
Esperar que a morte os tome
com boca de lobisomem?
Quem engana a morte ou a fome?
Se nascem junto com o homem
dentro do seu abdome?
Que ódios não os consomem
se têm boca, se têm nome?
Que humilhados esmolem?
Ter miséria como nome?
Que idéias não se consomem?
Há gana que não os tome?
Não te engane Super-Homem,
a fome, há quem embrome?


Fábio Brazil

DESABAFO



Longe de ti, este amor me põe agitado
como um mar de agosto.

Eu precisaria talvez de fazer uma sangria
nesta angustiosa saudade
que carrego opresso, tantas horas
como um sonho desenganado.

Recuo sempre, entretanto. Avaramente recuo.
Não sei partilhar-te com ninguém,
ainda que seja para aliviar
o coração.


J.G. de Araújo Jorge

AH, OS RELÓGIOS



Amigos, não consultem os relógios

quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


Mário Quintana

terça-feira, 21 de setembro de 2010

CAMALEÃO


Posso ser o que eu quiser:
anjo, santo, flor, menina
ser Buda, Talião, Maomé.
posso ser sua mãe
posso virar minha mãe
ser pessoa importante
ou apenas uma qualquer

posso me pôr nu,

andando, deitado ou em pé
voar, flutuar, me transportar
como um facho, um raio
seja pra China, Cochinchina ou Tibet

posso quebrar as regras

infringir todas as leis
caminhar pro abismo
cravar uma adaga no peito
sem que eu precise morrer

posso estar cego, surdo, mudo

ser pedinte, traste e vagabundo
que reviro o mundo da cabeça aos pés
a poesia me permite tudo
e estou pronto pro que der e vier


Marcelo Mourão

sábado, 18 de setembro de 2010

GOSTO



De adormecer com rádio ligado,
de beber leite com achocolatado,
de ficar deslumbrada com céu estrelado.

De admirar a lealdade,
de valorizar a simplicidade,
de reconhecer uma real amizade.

De chorar de alegria,
de perceber minha melhoria,
de pedir desculpa mesmo tardia.

De dormir de lado,
de dar espirro abafado,
de caprichar num lindo bordado.

Rosane Fortes

NAS ASAS LILASES DA SAUDADE


Sei tão pouco amor...
Mas sei que a saudade
às vezes me visita
Ela vem tão bela
em lilases asas
e meio aflita...
Ri da minha desdita,
diz que é leve,colorida,bonita!
Canta no meu ouvido esquerdo
uma canção antiga
tira das minhas caixas mais lacradas
memórias já quase perdidas...
Entre risos e suspiros
esmiúça meus segredos
desconsolada fica com meus medos
Não entende jamais meus anseios
porque vive só do que já foi
e assim não há ansiedade que sinta...
Não há despedida que não conheça,
nem solidão que não tenha vivido
Ela sabe muito mais
que meus já tantos anos de vida
Mas ela guarda dos dias também a alegria
e nos instantes eternos em que me visita
me traz presentes
de delicadeza infinita
ela diz... vamos veja...
São todos seus esses momentos repletos
de felicidade e luz benditas
Veja são todas suas essas recordações
cheirando a morangos e baunilha.

Regina Lodde

domingo, 12 de setembro de 2010

OS PARCEIROS



Sonhar é acordar-se para dentro:

de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro...eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!

Mário Quintana


Amor, sem alegria, é dor, é pranto;

Amor, sem dor, nem pranto, é fantasia;
Amor, sem fantasia, é desencanto
E amor, sem desencanto, é utopia.

Amor, se nunca ocorre, é lenda, é canto;
Amor, se nunca morre, é alegria;
Amor, se sempre amor, só traz encanto;
Amor é se encontrar amando, um dia.

Uns dizem que é o amor inexplicável;
Uns outros, que o amor deixa ferida;
Há aquele que já amou, que logo admite.

Defino-o como sendo interminável
E, certo de que o amor não tem limite,
Creio que é amor maior o amor à vida.

Bernardo Trancoso

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

RONDEL AO MEU AMOR



Eu te amo com a alma cheia de esplendores
Nos cantos mais obscuros do infinito;
Eu te amo com a intensidade das dores
Que me deixam inconsequente e aflito.

E dos sonhos que tive de amores

Tu és a que vens cumprir o escrito,
Como o orvalho rouba frescor das flores
E a eternidade tudo que é finito.

Como não sei fazer um verso bonito,

Para aliviar teus doidos temores
Apenas repito o que tenho dito:
Eu te amo com a alma cheia de esplendores
Nos cantos mais obscuros do infinito.


Oswaldo Antônio Begiato


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

POESIA LILÁS E ROSA



Não estou bem certa,

se toda poesia bela,
deva ser amargamente triste.
Ou se uma alma alegre,
de uma alegria inconteste
também linda e levemente
docemente a produzisse...


E essa poesia gerada na alegria,
bem ao meu gosto surgiria,
e em lilás e rosa se vestiria.
Traria em si flores ,
e um chapéu de largas abas,
sua tez suave adornaria!!!


No rosto formoso,um sorriso,
não de Mona Lisa ,
cheio de pranto e mistério.
Mas um sorriso aberto
e sincero de criança,
que feliz descalça brincasse,
em campos verde amarelos
de flores e esperança!


E essa poesia vestida
em sonhos lilazes e rosa,
pudesse alterar a realidade
de toda e qualquer vida
que delicadamente tocasse...
Revelando uma nova imagem,
como uma fotografia colorida
aos olhos de toda a gente,
que só em desdita e maldade acredita!


Regina Coeli Lodde