sábado, 30 de outubro de 2010


Um pedido de desculpas a quem está acessando meu blog - pela primeira vez e aos meus amigos(as) que sempre me visitam...

Bem que estou tentanto corrigir esse erro nas fontes das postagens - como vocês estão percebendo, algumas poesias estão com fontes diferente das outras.

Infelizmente, apesar de meu bravo esforço, não estou conseguindo chegar a um acordo com alguma "força" invísivel dentro do "Todos os Sentidos" rsrs - ele deve estar criando vida própria ^^

Mas continuarei na tentativa de deixá-lo um mimo como sempre foi desde o começo *-*
É só questão de tempo.

Eu vou ficar feliz se continuarem me visitando mesmo assim - com esse pequeno e, espero, provisório probleminha ^^

Beijos a todos que chegam até aqui, fingem que não vêem essa diversidade de letras de todos os tipos e tamanhos e se concentram nos sentimentos das poesias...

Beijinhos roxos, lilás e violetas de Sél


EU, TU E UM ADEUS


 Eu, tu e um adeus
(in Reflexos - 1976 - Porto, Portugal)

Sem rancores
sem lágrimas
sem amanhãs
sem nuvens
sem ódios
sem porquês...
Eu, tu e um adeus
num sorriso
aberto
franco
alegre
quase feliz!...
Olhar fixo
seco
vazio mas confiante
os dias são meus.
Ontem, hoje e sempre
Eu, tu e esse adeus!...

Maria Beatriz dos Santos Ferreira 

A MULHER QUE PASSA



Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.


Vinícius de Moraes


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

MELANCOLIA

Triste agonia em meu ser
melancolia absurda por não te ter
Abate meu coração que por tanto te amar
Clama desesperadamente por esta espera cessar

Que doce ilusão de ser tua
ser amada... é uma loucura!
Fecho os olhos em busca deste doce delírio
Que tanto me domina
E tanto me atormenta
Por não tê-lo aqui comigo

Noites em claro contigo em minha mente
Penso nos momentos que hão de vir e
Lágrimas a escorrer suavemente...
Triste realidade de não estares comigo

Assim então continuo
Com meus doces delírios,
Saudade infinita e
Eterno amor que por ti sinto
E hei de sentir através dos anos
Até que a vida cesse... até o reencontro


Cristina Suzuki


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA



Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água.

Pra me contar histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira

DOS MEUS TEMORES



Não temo abstrações
Temo o que é, de fato,
Concreto.
As constatações

O atrito pele-concreto
Provoca escoriações
Não costuma ser discreto

Não temo a tempestade,
Nem o escuro, os mortos, a morte, o medo
Ou a tal iniqüidade
Porque são incertos, segredos,
Secretos.

Entre a ignorância,
Que me inquieta,
E a certeza,
Que me apavora
Abro a cortina
Aos poucos goles
Até saber o quanto de luz
Meus olhos podem suportar.


Célia Sena

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ARGILA


Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas

E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha

Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,

O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...


Raul de Leoni

sábado, 16 de outubro de 2010

ORAÇÃO



Dai-me a alegria

do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
às almas eu distribua
minha porção de poesia
sem que ela diminua...
Poesia tanta e tão minha
que por uma eucaristia
possa eu fazê-la sua.
"Eis minha carne e meu sangue!"
A minha carne e meu sangue
em toda a ardente impureza
deste humano coração...
Mas, ó Coração Divino,
deixai-me dar de meu vinho,
deixai-me dar de meu pão!
Que mal faz uma canção?
Basta que tenha beleza...


Mário Quintana

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ode à Lua



Noite,

Bendito é o fruto do vosso ventre,
A lua
Placenta gelada
Em crateras, cavoucada
E crua
Estranha estrela
Essa, que não é
E brilha
Reluzindo luz alheia
Ultra-som celeste
Donde se há de ver
Jorge Guerreiro
Empunhando espada
Montado em Pégaso sem asas
Apagando o dragão em brasas

Dama de quatro quartos
Clara vela acesa,
Míngua
Luz de flor de lis,
Nova
Bendito ventre fecundo,
Crescente
Branca rosa aberta,
Cheia
Bola de cristal
Em órbita celeste
Feiticeira à baila,
Em rotação
Semeia aos poetamantes
Grãos de inspiração
E enche as marés
Em poema inundação
Iluminai viventes ao léu
Assim na Terra,
Como no Céu

Célia Sena

quarta-feira, 6 de outubro de 2010



Rosa acordada, que sonhaste?
Nas pálpebras molhadas vê-se ainda
Que choraste...

Foi algum pesadelo?
Algum presságio triste?
Ou disse-te algum deus que não existe
Eternidade?

Acordaste e és bela:
Vive!
O sol enxugará esse teu pranto
Passado.

Nega o presságio com perfume e encanto!
Faz o dia perfeito e acabado!


Miguel Torga

terça-feira, 5 de outubro de 2010

VONTADE DOCE



Tenho vontade

duma coisa doce
como se fosse vontade de ti

Tenho vontade
de uma coisa suave
como canto de ave
que encanta e sorri

Tenho vontade de algo diferente
que deixa semente
agora e aqui

Tenho vontade
de dizer ao mundo
que dói muito fundo
a vida, sem ti.


Maria Mamede

ASAS NO CHÃO

Os anos passam

e cresce a certeza:

tudo é sentimento.

A vida está quase sempre

ao alcance…

Mas os versos do dia-a-dia

são tomados de assalto

por palavras estranhas…

Sem qualquer poesia.

Os anos passam

e cresce a consciência:

tudo é dependência.

Significados conhecidos

fogem do apelo da palavra

como da cabeça o cabelo.

Às vezes o não é sim…

De outras vezes o sim é não…

A gente nasce leão

e morre tão passarinho…


Ju Rigoni

sábado, 2 de outubro de 2010

META_DES



A vida me faz em metades:


metade gente
metade bicho
metade natureza
metade alegria
metade tristeza

tem dias que carrego o mundo dentro de mim.
em outros, sou vazio sem fim.

tem dias que uivo noite adentro.
em outros gorjeio feito ave.

adejando-me por entre nuvens e ventos,
às vezes piso em marte.

tem dias que chovo,
ora fina, ora torrencialmente.
em outros broto-me semente.

já desabrochei flor,
já despontei sol,
já adormeci loba,
já amanheci rouxinol.

muitas vezes tento juntar as partes. nunca consigo!

elas se rejeitam... sofrem de incompatibilidades.

assim me levo... tempo que segue, pedaços-metades!

Ana Merij

INTEIRAMENTE LOUCO


Senhora minha, pois que tão senhora

Sois, e tão pouco minha, eu bem entendo

Que sorrindo negais quanto, gemendo,

Amor com os olhos rasos d'água implora.


Meu coração, coitado, não ignora

Que num sonho bem vão todo o dispendo

E é sem destino que assim vai correndo

Cansadamente pela vida afora.


Dizeis do meu amor que é coisa absurda,

E ele, teimando, faz ouvido mouco;

Nem há razão que o desvaneça ou aturda.


Não o escutais? Nem ele a vós tampouco.

Que, se sois surda, inteiramente surda,

Amor é louco, inteiramente louco.


Vicente de Carvalho