quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MINHA MORTE ALHEIA



Quando eu morrer

alguns amigos vão levar um baque enorme.
e na hora da notícia ou do enterro
sentirão que alguma coisa grave aconteceu para sempre.

Depois
irão se esquecendo de mim,
da cor do luto
- e da melancolia,
exatamente
como eu fiz
com os outros que em mim também morreram.

O morto, por pouco, é pesado e eterno.
Amanhã
a vida continua com buzinas, provérbios,
sorveteiros nas esquinas,
esplêndidas pernas de mulheres
e esse ar alheio
de que a morte
não apenas se dilui aos poucos
mas é uma coisa que só acontece aos outros.

Affonso Romano de Sant'Anna

2 comentários:

Lara Vic. disse...

a imagem é muito linda mas na verdade não entendi muito bem o que tem a ver com o poema (q tbm é bem bonito mas ñ combina com o estilo desses últimos que li até agg).
Mas continua de parabéns =D

Sél disse...

É muito "realidade"...rsrs
Eu gosto de Affonso Romano e como ele transcreve a "normalidade" e a realidade.
Nem tudo é sempre cor de rosa rsrs
Depois da morte a vida continua - a dos outros! ^^
bjs Lara
Ah e a vela?...só simbolismo rsrs