domingo, 29 de julho de 2012

AMOR


Fosse paixão, e seria fácil:
bastavam meia duzia de figuras de linguagem
explosivas e inverídicas, cuja pirotecnia
e brilho impactantes, ofuscando o vazio
por trás da fugaz alegoria,
já seduziriam as duas metades
incomunicáveis de cada casal triste,
e por isso críveis no desvario
da aventura passional como saída.

Fosse apenas sexo, e palavras quentes,
bem sacadas pela carga de luxúria e lascívia
beirando o obsceno, ao criarem um clima
de lírico impudor já tornavam cúmplice o leitor,
devido ao carisma do erotismo,
que excita, nivela e arbitra
o mesmo destino
a puros e a libertinos.

E fosse só poesia, mais fácil ainda:
com um punhado de frases acentuadas por espaços,
e rimas alocadas com pontaria,
já certa música e algum equilíbrio de texto lá estariam;
depois, com a aliteração e as tônicas
realçando o ritmo, as metáforas teriam graça, frescor,
um toque de alegria,
- e, por fim, desarrumando tudo,
o poema ficaria difícil,
parecendo profundo.

Mas sendo Amor, o poeta se complica,
se aquieta por sincero
e medita
confuso, repleto,
sem armadilhas,
maravilhado
e sem palavras.


José Renato Marino

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