A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos as vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,
- é pequenina, é bem menor, é até
já não é dor talvez, dor já não é
dividida por dois!
A alegria que as vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo
e nos põe tristes sem querer, depois,
- aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria é muito mais,
dividida por dois.
Estranha essa aritmética da Vida
nem parece ciência, parece arte,
compreendo a dor menor, se dividida,
não entendo, é aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria se reparte!
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
Invade meu coração docemente...
sem que eu perceba, derruba minhas bastilhas
e deixa-me exposta, assim, nua...
despida de todas as defesas,
entregue ao mistério da magia tua...
Desfaz com o toque mais suave
a resistência de meus músculos,
alivia esta pressão em minha nuca
e cobre com teus beijos,
a lassitude que pouco a pouco me domina...
Cativa-me...
Com teus olhos amorosos adentra minh’alma!
percorre meu interior com a calma desse olhar iluminado,
fita-me longamente, em silêncio total...
deixa que eu escute o murmúrio de teu coração...
recebe minha entrega como um ritual
Cativa-me...
Aquieta essa agonia, essa premência,
com tua paz... ensina-me como se faz...
contamina meu coração de serenidade,
e segreda aos meus ouvidos os mais doces versos
de um amor quase divino,
as confissões de um menino,
os desejos do amante, as verdades do amigo,
do irmão, os cochichos tão antigos...
Cativa-me!!
Meus sentimentos com capricho enlaça e cuidadosamente,
sob o manto de tua intimidade
aninha-me nesse laço...
dá-me a confiança há muito roubada
exorcisa a insegurança exagerada...
Cativa-me...!
Perde comigo o tempo necessário e me resgata!
Afugenta meus temores,
liberta-me de falsos amores, acorda-me!
Desperta-me do sono que domina
a mulher e a menina...
acorda em mim a alegria esfuziante
dos insensatos amantes...
enfeita o caminho por onde vou passar
com as flores mais bonitas e coloridas fitas...
Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois, Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça Da poesia: É ela, prisioneira, Que, vendo a porta da prisão aberta, Como chispa que salta da fogueira Numa agressiva fúria se liberta.
A arte é a expressão plástica do espírito
E o meu, livre, infinito e criativo manifesta-se com o ar
Como um grande véu nas mãos a dançar no vento
Muda suas formas, muda de direção sem hesitar.
É urgente, mas sabe esperar quando há calmaria
É fino, sutil, mas tecido por fibras fortes...
Não se aprisiona, dança a melodia dos ventos
Vaga pelo céu e chão...
Suja-se de lodo e é purificado pelas chuvas...
É pisado, acariciado...
Envolvente e aconchegante.
Meu espírito dança, voa, rodopia.
Cria e recria-se diariamente...
Cria laços, elos, nós.
Quanto mais forte mais brilha
Se tão só, desatina.
O só não é a falta de presença
Mas a presente falta de si mesmo.
E toda falta é sombria, seca, vazia.
A vida é a arte de estarmos cheios, de nós mesmos.
Estou me habitando.
Sou minha melhor inquilina...
E em mim, só entra quem eu deixar.
Teço a teia de minha própria vida; hoje, sem nós.
Minha expressão é a melhor
É moldada pelas estrelas, vento e chuva
É a expressão mais pura
Antiga e sagrada canção de adoração em coro
De muitas almas e vidas que, em equilíbrio,
Fazem de um pano velho, virar ouro.
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido, sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas, que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
A esperança me chama e eu salto a bordo
como se fosse a primeira viagem.
Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto;
qualquer sinal é um bom presságio.
Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito.
Ando de olhos fechados feito criança brincando de cega. Mais de uma vez saio ferida ou quase afogada, mas não desisto. A dor eventual é o preço da vida: passagem, seguro e pedágio.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.
E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.
Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável... A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...