quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

UM DESEJO


O poeta calado
é como a flor a esconder suas pétalas
ou uma palavra sem sílabas
um poema sem verso
lá no fim dos confins do universo
sem poeta e sem leitor
um candidato a deputado
sem mandato ou eleitor
é como o pôr-do-sol em preto e branco
ou um bailirino manco
uma dançarina sentindo dor
o poeta calado
é um folha seca apodrecendo no charco
um furo no casco de um barco
afogando o remador
é o silêncio do som
o olvido do olfato
a negritude da cor
o poeta calado
é uma embarcação encalhada
a limpeza emporcalhada
o desamor do amor
um avião que não voa
um talento vivendo à toa
amante sem amador
passarinho sem canto
a tristeza sem pranto
alegria sem esplendor
um pomar cheio de frutas carnudas
que o dono proibiu de colher
é a liberdade que um dia tive
mas que alguém resolveu me tolher.


Benno Assmann

2 comentários:

Maré Viva disse...

Um poeta calado
é um mar sem água,
um chão sem flores,
um azul sem céu,
um amor sem mágoa.

Beijos.

Maria Luiza Silveira Teles disse...

Nossa, Selminha, vc está arrebentando! Seu blog está cada vez mais lindo e os poemas... sem palavras... Ma-ra-vi-lho-sos!
Vá lá no meu cantinho de poesia: poesiauniversaldalu. Ficarei felicíssima!
Abraço amigo e obrigada por tudo,
Maria Luiza